sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Expresso

Preparemo-nos, afincadamente, para o curso intensivo de modas e bordados que a China se prepara, com toda a calma e paciência, para ministrar a todo o mundo, sem necessidade de matrícula nem de propinas.

No Expresso desta semana, como sempre, o cartoon de António põe o dedo na ferida ...


Também nesta edição, a habitual crónica de Miguel Sousa Tavares termina com (mais) um exemplo das muitas mentiras que vêm caracterizando os últimos tempos e prometem prosseguir "sem dó nem piedade".

"(...) 3. A deputada do Chega Rita Matias (já habitual nestas coisas) acolheu, divulgou e ampliou um post de um militante do partido que sustentava que, enquanto os imigrantes chegados a Portugal só por esse facto beneficiam logo de apoios do Estado, os bombeiros voluntários combatem os fogos sem nada receber em troca. Ambas as coisas são falsas: os imigrantes não beneficiam de quaisquer apoios por o serem e os bombeiros voluntários, apesar do nome, recebem 75 euros por dia de combate ao fogo (mesmo para "voluntários" é bem pouco, mas há países, porventura mais inteligentes, onde os bombeiros, voluntários ou profissionais, não recebem por cada dia a combater fogos, mas o contrário: por cada dia em que não houve fogos, sinal de que antes investiram na prevenção e na vigilância). Irá a senhora deputada repor a verdade ou dá mais jeito deixar correr a mentira?."

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Livros (lidos ou em vias disso)

Vai longe o tempo em que ler Aquilino "obrigava" a ter o calhamaço da Porto Editora sempre à mão. Agora, o telemóvel dá uma ajuda fácil e preciosa, se bem que surjam, de quando em vez, alguns vocábulos, frases ou expressões que a IA ainda não "aprendeu".

O livro chegou há cerca de um ano e é uma (re)edição de 2023 da Bertrand, com o apoio do Município de Moimenta da Beira. Juntou-se aos antigos que por cá "habitam", mas só agora teve direito a leitura. Nem sempre há disposição, e tempo, para o "castigo" que é ler Aquilino ... mas vale sempre a pena. A língua portuguesa tratada pelo Mestre é, ainda, mais maravilhosa.

"(...) Desde aquele momento, a velha igreja adormecida, que o tempo ia consumindo com limar silencioso, acordou à sanha renovadora de meu pai. Dias a fio, o rebuliço quebrou o laborioso encanto da Biblioteca. E uma manhã, uma revoada de aves noctívagas veio abater-se espavorida por detrás dos volumosos tomos de Cornélio Alapide e de Silveira, doutos comentadores de textos.

Minha mãe, na lacrimosa fonte dos monges, lavou de sol nado e sol-pôr. Às braçadas, dos arcazes profundos da sacristia e da casa da fábrica, lhe acarretou meu pai todas as alfaias de linho raso e pano holanda que havia. E tantas eram, que, no dizer de meu mestre, sobejavam para enroupar um albergue de desvalidos. Quando todos estes objectos, artificiosamente obrados, de doce nome e de corte extravagante, alvas, amictos, palas, sanguinhos, frontais, manípulos, corporais, bolsas, secavam ao sol, lembraram-me os estendedoiros de Maria de Nazaré que, antes de ser vaso de eleição, fora modista e lavadeira de delicados dedos.

As minhas devoções cumpri-as agora perante o Cristo exposto no baldaquino da Livraria. Em tempo ordinário, todas as manhãs, antes que meus dedos folheassem livro, dirigia-me à capela a orar e a contemplar. Era um louvável costume que meu mestre me inculcara como fonte copiosa de actividade. Sozinho na nave imensa, a meio dum vagalhão de sombras, o espírito penetrava no meu espírito como o sol por uma vidraça. Do alto tecto alteroso, em uma só curva, a pomba do Paracleto, com rémiges vermelhas laivadas a branco, voejando sobre um bulcão de labaredas, soltava as vozes doloridas: in nidulo tuo moriar. Pisando aquelas lájeas funerárias, eu ouvia-as sempre com a angustiosa obsessão dum peregrino perdido a monte. Em cima, na tribuna, S. Francisco e S. Domingos cresciam em sua estatura severa de gigantes; intimidava-me neles a expressão de força e ombratura de centuriões romanos.

- Não era podoa nenhuma este imaginário - disse-me um dia o senhor padre Ambrósio, apontando com o índex. - Foram assim, apoucados no jeito, grandes no gesto. Rezam as histórias que o papa Honório, terceiro deste nome, em vésperas de confirmar a Ordem dos Pregadores, fundada por S. Domingos, tivera uma visão. O filho de Deus aparecera-lhe armado de três lanças, lívido de cólera, prestes a destruir o mundo que três vícios, a soberba, a cobiça e a luxúria, devoravam. <<Tate! Meu Jesus - acudiu a dulcíssima Virgem Maria - os homens são fracos, são filhos de Adão pecador, mas regeneram-se.>> E, só com mostrar-lhe S. Francisco e S. Domingos, obteve a clemência de Jesus ... De facto, os dois vagabundos dos caminhos salvaram da morte o mundo cristão. Este estatuário não era podoa, Libório, não era ... (...)"

A via sinuosa
Aquilino Ribeiro
Bertrand Editora (2023)

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Tão longe ...

Porque hoje é o "primeiro dia do resto da tua vida", fica por aqui uma escolha tão do agrado do teu filho, meu neto caçula, assinalando a quarta capicua de uma vida que se espera, e deseja, traga muitas.

Parabéns, meu filho!

sábado, 30 de agosto de 2025

Comboios

Há cinquenta anos que não ando de comboio, nem mesmo uma só voltinha para recordar tempos idos e viagens intermináveis, da capital do Oeste para a "cidade grande" e vice-versa. Grandes leituras e, também, enormes sonecas, nas quase três horas de caminho.

Talvez a electrificação da linha do Oeste e a consequente melhoria dos comboios e dos tempos de viagem ainda me apanhem em condições de voltar a usar um meio de transporte que as autoestradas, as vistas curtas e os interesses rodoviários tornaram obsoleto. Portugal é a excepção europeia no que à utilização dos caminhos de ferro diz respeito.

E a que propósito me lembrei eu, hoje, do comboio?

Vi por aí, numa dessas notícias "telefónicas" que chegam depressa e desaparecem logo, uma referência a Lobão da Beira, localidade do concelho de Tondela, distrito de Viseu. Associei a localidade a um cliente para quem, nos meus primórdios profissionais, despachei, via CP, muitos molhos de bacelos que o estimado senhor estava a plantar naquela localidade. Durante três ou quatro anos, já não recordo bem, o telefone fixo tocava e a encomenda surgia, sempre acompanhada pelo convite para visitar as vinhas plantadas, quando calhasse passar por Lobão. Se a visita nunca aconteceu, como me fui lembrar disto agora?

Associação de ideias ou idiotice?

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Ventos

No alto daquela serra não plantei uma roseira, como fez o outro!

Deixaram-nos por lá umas boas centenas de pinheiros, que vão crescendo, dia a dia, sempre com necessidade de alguns cuidados difíceis de concretizar por quem não tem saber nem experiência da arte. 

Do alto do Montejunto vê-se a Foz, ouvem-se os passarinhos, sente-se a música do vento que, por lá, sopra de forma constante. E cresce-se, vive-se, faz-se "ginásio" e vê-se, claramente visto, que a agricultura é "a arte de empobrecer alegremente".

Que fazer? Enquanto as pernas deixarem, vamos subindo e descendo ...

domingo, 24 de agosto de 2025

Inverno

Com Agosto à beira do fim e o Verão a caminhar junto, nota-se menos gente na praia eleita e já se vai comentando que as férias estão a dar as últimas, com o regresso ao trabalho de muita gente, nomeadamente dos que laboram bem longe daqui.

Como sempre, tudo parece ter um fim, o que nos faz encarar a vida pela positiva e pensar sempre que "depois da tempestade, surge a bonança". Será mesmo assim? Não parece!

Da guerra na Ucrânia, por mais "bocas" que o homem da melena amarelada lance, não se vislumbra fim à vista; na faixa de Gaza, outro mentecapto prossegue na destruição de muitos na tentativa de se safar a si próprio; a Europa lança foguetes e corre, desesperada a apanhar as canas. Por cá, apesar dos estudos, das análises, dos meios, das percepções, das cores dos avisos, dos heroísmos, das tardias ajudas, das festas e romarias com gin à mistura, os fogos continuam a destruir sem dó nem piedade uma parte significativa do país e a ceifar vidas.

Que o Inverno chegue depressa! 

sábado, 23 de agosto de 2025

Palavras bonitas ...

... adequadas para o meu pai, que partiu há precisamente uma década.

VOZ

Era uma voz que doía,
Mas ensinava.
Descobria,
Mal o seu timbre se ouvia
No silêncio que escutava.

Paraísos, não havia.
Purgatórios, não mostrava.
Limbos, sim, é que dizia
Que os sentia,
Pesados de covardia,
Lá na terra onde morava.

E morava neste mundo
Aquela voz.
Morava mesmo no fundo
Dum poço dentro de nós.

Libertação
Miguel Torga
Coimbra (1978) 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Nomes

Tenho um nome próprio não muito vulgar, escolhido por minha mãe, a qual nunca me explicou a razão de o ter feito nem em que se baseou para tal. A dúvida, metódica, já não pode ser esclarecida.

Para além de ser uma cidade da Florida, nos USA, e título de um romance de Virgínia Woolf, parece ter tido origem em nomes germânicos e significar "natural de terra gloriosa". Tinha de ser ...

Até aqui, nada de anormal nem de diferente de milhares de outros nomes escolhidos para muito boa gente.

Todavia ... em criança, poucos acertavam com ele, ouvindo-se Arlando, Arelando, Arrelando, Relando, e, apenas de quando em vez, a pronúncia correcta. Na escola, era frequente surgir o "H" no início e uma cara de espanto quando corrigia o erro. Ainda não há muito tempo, um funcionário ficou boquiaberto por não conseguir encontrar esse nome esquisito na ordem alfabética computacional. 

- Não é com "H"?

Com tudo isto convivi, e convivo, sem quaisquer problemas, muito menos recalcamentos, zangas ou amuos. E gosto muito do meu nome, devo confessar.

Esse gosto está mais reforçado com a constatação de este nome tão difícil ter sido trazido para a "montra" do supermercado e ser marca de comida distintiva para o melhor amigo do homem (e da mulher, claro)! 

sábado, 16 de agosto de 2025

Paz

Antes ou depois do encontro no Alasca? Adivinhar é proibido!


António, no Expresso desta semana, com a actualidade e a qualidade do costume!